Muitas pessoas queixam-se de não saberem o que podem fazer pelos outros, embora sintam o desejo de contribuir para minorar os problemas que afligem tantas famílias – e tantos idosos sem família – em todo o país. Por haver muito para fazer e muitas instituições a necessitar de vontades e braços para ajudar, decidimos abordar neste 45+ o tema do voluntariado, para que possa oferecer a sua colaboração. Ajudar é gratificante para quem se dedica a essa actividade e a idade não constitui entrave. Umas horas apenas por semana podem fazer a diferença... para os outros e para si!
Começamos hoje por publicar o enquadramento oficial do estatuto do voluntário. Em futuros posts daremos sugestões de instituições, em todo o país, onde a sua colaboração será certamente útil e bem-vinda.
Voluntário (art.º 3.º da Lei n.º 71/98, de 3 de Novembro)
É o indivíduo que de forma livre, desinteressada e responsável se compromete, de acordo com as suas aptidões próprias e no seu tempo livre, a realizar acções de voluntariado no âmbito de uma organização promotora.
A qualidade de voluntário não pode, de qualquer forma, decorrer de relação de trabalho subordinado ou autónomo ou de qualquer relação de conteúdo patrimonial com a organização promotora, sem prejuízo de regimes especiais constantes da Lei.
Por isso ser voluntário é:
Ø Assumir um compromisso com a organização promotora de voluntariado;
Ø Desenvolver acções de voluntariado em prol dos indivíduos, famílias e comunidade.
Ø Comprometer-se, de acordo com as suas aptidões e no seu tempo livre;
Actuação do voluntário:
Actuar como voluntário é ter um ideal por bem fazer, que assenta numa relação de solidariedade traduzida em:
- Liberdade, igualdade e pluralismo no exercício de uma cidadania activa;
- Responsabilidade pelas actividades que desenvolve com os destinatários;
- Participação nas actividades a desenvolver pela organização promotora na aplicação do Programa de Voluntariado;
- Gratuitidade no exercício da actividade, mas sem ser onerado com as despesas dele decorrente;
- Complementaridade com a actividade dos profissionais, sem os substituir;
- Convergência e harmonização com os interesses dos destinatários da acção e com a cultura e valores das organizações promotoras.
VOLUNTARIADO EM SETÚBAL
Hoje divulgamos aqui o comunicado da Cáritas de Setúbal publicado no site do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado:
Ser Voluntário .....na Cáritas de Setúbal
A Cáritas Diocesana de Setúbal promove e desenvolve, pela sua própria natureza, o Voluntariado, na sua dinâmica organizacional de serviço ao próximo. Somos uma organização que, pela sua identidade de Missão e sentido de serviço aos mais pobres, acolhe todos os que vêm até nós para dar e receber. Esta dinâmica é a raíz da Missão que nos move, ao tornar visível a medida cheia - calcada e a transbordar.
Qualquer pessoa pode ser voluntária na Cáritas porquanto o que queremos, o que desejamos, é que os voluntários partilhem do espírito de Missão, aprendam a escutar, saibam acolher, para poder distribuir o pão que sacia o estômago dos mais pobres.
Vivemos momentos dificeis, cada vez mais próximos de uma pobreza de bens essenciais, que a muitos afecta e a todos implica, porque todos a sentimos.
Se a todos é pedida e exigida uma vida mais austera, mais direccionada para o essencial, alguns, muitos mesmo, vivem já na privação dos bens essenciais como o pão, a habitação, a saúde...bens considerados de cidadania, direitos sociais pois, sem eles, nada nem ninguém pode ser verdadeiramente pessoa, cidadão.
Ser voluntário, junto dos pobres mais pobres, é acima de tudo, estar disponível para escutar e comprometer-se, oferecendo ao outro, quanto mais não seja, o valor, a dignidade que ele deseja e a que tem direito.
A cáritas de Setúbal desenvolve, há já vários anos, para apoio aos "sem abrigo" e "passantes", o projecto " Tornar a Ser" , com a colaboração de voluntários.
Todos começaram com um curso de formação inicial, antes de iniciarem a actividade, assumida com responsabilidade. Foi esse o caminho seguido pela nossa voluntária C., com 87 anos de idade, que todas as 6ªas feiras, faça frio ou calor, seja verão ou inverno, aqui está de corpo e alma pelas 17. 30, alegre, bem disposta, sorridente. São um grupo de nove voluntários que distribuídos pelos vários dias da semana, estão conosco e nos ajudam nesta Missão. Neste mesmo Centro numa outra Valência, a de apoio aos portadores de HIV/Sida, uma voluntária, todos os dias da semana, dá o seu melhor para conosco ir ao encontro desta população que tanto necessita. Para se ser voluntário, não é só querer!...É preciso ir aprendendo a ser!...
Este ano lectivo, contámos com um grupo do 12º ano de uma Escola Secundária, que na disciplina de área de Projecto realizou, ao longo deste ano, um trabalho de voluntariado digno de registo. Acompanhados por duas Professoras vieram ajudar no projecto "Tornar a Ser", não só a servir as refeições mas, sobretudo, para conversar, escutar e dinamizar actividades lúdicas que permitiram a partilha de experiências de vida que a todos enriqueceu e que, certamente, marcou as suas vidas. Um projecto coerente, consistente, com muitas sementes lançadas e alguns frutos já colhidos.
O que acreditamos ser a nossa mais-valia, é a vida transformada em mais vida partilhada. Nisto reside a essência do Voluntariado!
Isabel Monteiro
Directora Técnica do Centro Social
de S. Francisco Xavier
VOLUNTARIADO – TESTEMUNHO DO PADRE FEYTOR PINTO
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Hoje deixamos aqui extractos de uma entrevista sobre voluntariado, publicada no site do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado.
Padre Feytor Pinto:
Há 30 anos que acompanho voluntários e, na sua formação, exerço também a missão do voluntário. O voluntariado supõe o apoio a pessoas em dificuldade que são assistidas através de uma presença humana, de uma relação positiva, do contributo de bens e serviços que ajudam as pessoas, muito para além dos apoios oficiais que o Estado pode proporcionar. O voluntariado exerce-se no jogo dos afectos que estimula a relação, mas caracteriza-se pela competência no que se dá. Neste contexto, posso agora responder às suas perguntas.
Num Sistema de Saúde como o português – que se pretende universal – como seriam os cuidados prestados se não existisse voluntariado?
O voluntariado constitui elemento indispensável à humanização da saúde. No exercício de cuidados, para além do diagnóstico e do tratamento terapêutico, exige-se o acompanhamento integral da pessoa em crise. Não é suficiente o conjunto de intervenção e medicamentos a administrar. Impõe-se uma relação humana de qualidade. Esta relação humana constante é difícil para os técnicos, médicos, enfermeiros e outros, que raramente conseguem a presença continuada junto de um grupo de doentes, muitas vezes numeroso. Então, os diversos serviços têm como colaboradores lógicos, os voluntários que, preparados ao nível da psicologia e da relação personalizada, completam o trabalho que os profissionais vão desenvolvendo. Curiosamente é de notar que a presença dos voluntários não se refere apenas a doentes pobres, migrantes, sem estatuto social. Os voluntários servem a todos os doentes, na área que lhes está confiada. São para todos, qualquer que seja a sua condição, uma vez que o apoio anímico e a complementaridade pedida pelos serviços são devidos a todos os doentes internados. Neste contexto, se nos cuidados prestados não existirem voluntários, não se está a contribuir para a mais qualidade que é devida ao homem todo e a todos os homens.
Com a evolução do envelhecimento em Portugal, que novos desafios se colocam ao voluntariado em geral, e ao voluntariado em saúde em particular?
Esta pergunta põe duas questões. A primeira: uma população mais envelhecida necessita de mais cuidados sociais e de saúde. Então, reconhecendo que o grande problema das pessoas mais velhas é a angústia da solidão, o voluntário tem uma missão extraordinária, de proximidade, de ocupação do tempo, de complementaridade nas ajudas em casa ou no estabelecimento de relações de vizinhança. É um trabalho importantíssimo no apoio ao domicílio ou na orientação do tempo livre, no “centro de dia” ou noutros lugares. O maior número de doentes idosos nos hospitais também exige um trabalho específico mais bem estruturado. A segunda questão é um desafio: Os idosos que chamarei seniores, pessoas com anos, mas com uma saúde razoável, são candidatos lógicos a um voluntariado competente, até porque ocupam o tempo fazendo o bem a outras pessoas mais carenciadas. Sentem-se assim mais úteis, nesta etapa mais avançada da vida.
VOLUNTARIADO NA RAMADA
Maria da Conceição dos Santos Marques Sousa, 73 anos, Voluntária ( in site do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado) :
Após a reforma aos 70 anos encontrava-me muito só e pensei ajudar os que mais precisavam de apoio. Comecei por apoiar o serviço de apoio domiciliário integrado ajudando a dar comida e banhos a doentes acamados.
Ao mesmo tempo, desde o ano 2000 que todos os meses de Agosto dedico o meu tempo à confecção das refeições para os idosos do apoio domiciliário e funcionários da instituição. No total de cinquenta refeições diárias. Este trabalho é feito com a colaboração de outras voluntárias, estando a arrumação e a limpeza da cozinha e dispensa também à minha responsabilidade.
Actualmente, confecciono as refeições para os bebés dos 8 aos 16 meses da creche do Centro Comunitário Paroquial da Ramada. É um trabalho gratificante, que me distrai e onde faço amizades. Aos fins de semana apoio ainda na confecção das refeições para os seminaristas e sacerdotes que vêm à Paróquia da Ramada.
Estou sempre disponível para ajudar o próximo, sentido-me feliz, útil e não envelhecendo de uma forma doentia.
VOLUNTARIADO - Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
Voluntária da DASL Sul ( in site do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado) :
Acompanhou-me desde longa data um desejo de iniciar uma vida de “voluntariado” logo que terminasse a minha vida profissional e entrasse na situação de “aposentada”.
Muito embora fosse muito forte o desejo de servir a causa do “voluntariado” senti que não o poderia fazer como desejaria dado que a minha vida particular tal não permita. Sentia, porém que algo poderia fazer e por isso não deveria desistir. E assim aconteceu.
Depois de várias propostas decidi-me pelo “Voluntariado da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa”. O meu voluntariado é dirigido aos idosos que se encontram internados em lares, idosos esses que são subsidiados pela Santa Casa. Muitos desses idosos não têm na família uma pessoa amiga, enfim alguém que lhes dê um pouco de carinho, de ternura, de amor, de atenção, bem como tratar de certos assuntos pessoais, pois já têm dificuldade para o fazer.
Passei a ser a sua “Procuradora”. Sou eu que procuro resolver todos os assuntos que necessitem de ser resolvidos e isso contribui para que se sintam que não estão sós, que têm alguém que os escuta, que os ajuda, que os apoia e está sempre ao seu lado para lhes dar força, aquela coragem que tanto necessitam para enfrentar a adversidade que estão vivendo mas que com muita esperança, muita fé poderá ser vencida.
E esta mensagem é a mensagem que desejo e espero saber transmitir-lhes.
Termino com um apelo.
Quer tenha muito ou pouco tempo disponível para “voluntariado” deve fazê-lo porque será de certo uma grande prova de amor ao seu semelhante.
VOLUNTARIADO - Coimbra
Armando Silva (Coordenador do Voluntariado Hospitalar do Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro – Coimbra, in site do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado) :
Logo que me aposentei, comecei a dedicar-me ao Voluntariado. Dou o meu contributo como Voluntário do Núcleo Regional do Centro Liga Portuguesa Contra o Cancro no Centro Regional de Oncologia de Coimbra, onde todos os dias chegam doentes dos mais diversos pontos do país.
Utilizam variados meios de transporte (ambulâncias, táxis, ou veículos próprios). Se o doente vem pela primeira vez, é normal que se sinta muito traumatizado, bem assim como os seus familiares e fica sem nada a que se agarrar. Tudo é novo e diferente. E porque tudo isso acontece, o doente vai sentir-se inseguro e tem medo, porque não sabe o que lhe vai acontecer.
O Voluntário é a pessoa humana que vai estar em contacto com o doente, partilhando as suas angústias e seu sofrimento.
Sinto-me um privilegiado por estar ao serviço do Voluntariado dos Doentes que sofrem da terrível doença a que se chama cancro, porque me apercebo, que me enriqueço humanamente, dando-me diariamente aos outros.